terça-feira, 24 de novembro de 2009

LAS VENAS ABIERTAS...



   Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um em que alguns países especializam-se em ganhar, e outros em que especializaram em perder. Nossa comarca de mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta. Passaram os séculos e a América Latina aperfeçou suas funções. Este já não é o reino das maravilhas, onde a realidade derrotava a fábula e a imaginação era humilhada pelos troféus das conquistas, as jazidas de ouro e as montanhas de prata. Mas a região continua trabalhando como um serviçal. Continua existindo a serviço das necessidades alheias, como fonte de reserva de petróleo e ferro, cobre e carne, frutas e café, matérias-primas e alimentos, destinados aos países ricos que ganham, consumindo-os, muito mais do que a América Latina ganha produzindo-os.
   Na caminhada, até perdemos o direito de chamarmo-nos americanos. Agora, a América é, para o mundo, nada mais do que os Estados Unidos: nós habitamos, no máximo, numa sub-América, numa América de segunda classe, de nebulosa identificação.
   É a América Latina, a região das veias abertas. Desde o descobrimento até nossos dias, tudo se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal tem-se acumulado e se acumula até hoje nos distantes centros de poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas, ricas em minerais, os homens e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e humanos.

TRECHOS DO LIVRO "AS VEIAS ABERTAS DA AMÉRICA LATINA" DO URUGUAIO EDUARDO GALEANO







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